Deu tudo errado e foi minha culpa. Não tem destino, nem Deus. Tem os homens, sua falta de preparo, sua irresponsabilidade e sua insensibilidade. Por dez minutos você perdeu seu sonho de conhecer Montevideu no aniversário de seus cincoenta anos(30/11). No-show, eles dizem. Tudo tão planejado por nós dois, mas a razão não prevê que crimes ocorram em Porto Alegre; que a policia transtorne o trânsito com seu trabalho e que taxistas cheguem atrasados nesta cidade"me perdi, desculpe" –será melhor o Uber? Você sai com o tempo necessário em condições normais, mas ninguém lhe avisou que esta cidade vive já condições anormais, que nada mais é certo, muito menos o tempo de transporte: o que era para ser dez minutos pode virar uma hora. Ninguém.

É o efeito borboleta? Um gesto do outro lado do mundo repercute em Porto Alegre? Nada disso, não precisa ir tão longe. Está tudo interligado neste formigueiro humano às avessas, onde o que era para ser ordem é substituído por desordem; o que era para ser humanidade, desumanidade: só na novela, Giovana Antonelli pede no aeroporto um pouco de tempo e os fiscais esperam de prontidão: na realidade não há prazos flexiveis mesmo que o avião ainda fique uma hora na pista enquanto, de guichê em guiché, eu implorava por uma chance para realizar seu sonho junto a Gol, Anac e Polícia Federal. O pior nunca é o prezuízo material, o pior é perder nossos sonhos.

Díficil o mundo onde para cumprir as regras é preciso assassinar sonhos e fazer lucrar o capital, quanto mais problemas melhor. Alguém lucrará tanto com os prejuízos de Mariana quanto com meu prejuízo (Gol,hotéis,etc) porquê é exatamente esta a lógica do mundo, o das promessas não cumpridas – não é isso a alma do negócio? As tragédias são diferentes, é claro, mas o mecanismo por detrás dela é o mesmo: neste mundo, o único com direito a realizar seu sonho é o Capital.

Mas nem tudo está perdido. Montevideo continuará como seu sonho a realizar um dia. Perdeu o brilho e o mundo tem problemas muito maiores para falar que o nosso não vale uma crônica de jornal. Não chore, eu amo você. Feliz aniversário, Denise.