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Conflito na assembleia  gaucha envolve vereadora  fernanda melchionna

7.214 agredidos em Porto Alegre

A agressão à vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) em um conflito hoje (15/12)  na Assembleia Legislativa do Estado do  Rio Grande do Sul, além de uma agressão à Câmara Municipal de Porto Alegre,  é uma agressão a seus 7.214 eleitores.

Jorge Barcellos - Doutor em Educação

Publicado: 2015-12-16


No dia de hoje, a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) e demais moradores que participavam de uma audiência pública na Assembleia Legislativa para tratar da questão de ocupações urbanas, terras indígenas e quilombolas, foram agredidos pela Brigada Militar que chegou a Praça da Matriz durante o encontro. Para mim, agredir um vereador é a mesma coisa que agredir os seus eleitores. No caso da Vereadora Fernanda Melchionna, eleita em 2012 para a Câmara Municipal de Porto Alegre, equivale a 7.214 pessoas, não é pouca coisa: a Brigada Militar desrespeitou uma representante no exercício de sua função, lutar pela preservação dos direitos individuais e coletivos da população, artigo raro na política. 

A confusão começou porque os militares abordaram três jovens que chegavam a audiência porque receberam denúncias de porte de drogas. Os integrantes da reunião foram chamados a intervir e a reação da Brigada foi truculenta e muito além do que a situação exigia, constituindo visivelmente um abuso de poder,  noticiada amplamente e ao vivo pela Rede Record de Televisão e pelo Jornal SUL 21.  

Segundo informações apuradas pelo Jornal SUL21 “o deputado Júnior Piaia (PCdoB) foi chamado pelos moradores das ocupações para intervir na situação e tentou dialogar com os policiais. “Questionarei se havia motivo nesse momento para criar esse tumulto, ele disse que estava cumprindo ordens. Começaram a tentar levar preso outro indivíduo, disseram que ele não quis mostrar documentos”, contou.

Segundo a jornalista Débora Flogiatto, os participantes da audiência questionaram as detenções, protestando contra a ação policial, inclusive a vereadora Fernanda Melchionna. Nas imagens da televisão, presenciadas por este articulista, vê-se o empenho da vereadora da Câmara Municipal de Porto Alegre em luta pelos direitos dos trabalhadores sem teto. As imagens mostram a vereadora recebendo um rajada de spray de pimenta e após, depondo nervosa a repórter do Jornal Balanço Geral. Segundo a jornalista Débora Flogiatto, a agressão incluiu os presentes em frente a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, incluindo uma integrante do Movimento de Luta nos Bairros (MLB), que foi agredida por um policial com o mastro da bandeira que carregava.”

Foram presas duas pessoas, um menor de idade e um advogado que tentou mediar a situação. As imagens da televisão Record registram o Deputado Estadual Pedro Ruas (PSOL) atônito diante de uma investida injustificada e violenta.  

Como isso tudo pode acontecer? Porto Alegre convive com um processo agudo de reintegrações de posse de ocupações realizadas por camadas pobres. A razão é a escalada de especulação financeira e imobiliária vivida no país, motor de sua inclusão no processo de globalização que produz a exclusão das parcelas mais pobres da população das políticas públicas, principalmente de habitação. Além disso, as contradições promovidas pelas alianças construidas  pela Presidente Dilma Roussef (PT), estabeleram em sua gestão limites à construção de políticas públicas sociais, que sofreram redução de investimentos em seu segundo mandato. Além disso, o governo do Estado do Rio Grande do Sul, através do governador José Ivo Sartori, sofre com as consequências da politica  neoliberal de Estado Mínimo, de seu partido (PMDB), reduzindo salários de servidores públicos entre outras medidas. Essa combinação de arrocho salarial vivido, desemprego, falta de oportunidades,  bem como a ausência de políticas públicas de habitação,  transformou o Estado em um caldeirão. Nesse contexto, o uso da violência de Estado  (Brigada Militar) contra camadas mais pobres tem sido um dos instrumentos básicos de controle social e a vereadora Fernanda Melchionna, bem como a população carente, suas principais vítimas no dia de hoje.  


Escrito por

Jorge Barcellos

Doutor em Educação. Autor de "Educação e Poder Legislativo"(Aedos Editora). Colaborador do SUL21, Estado de Direito e Jornal Zero Hora.


Publicado en

Pensamento Contemporâneo

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